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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Budismo e Vegetarianismo: questão de opinião?

por Marcelo Prati (Renji)

Apesar de existir já um trabalho ótimo sobre a relação entre vegetarianismo e Budismo escrito pelo Mestre Budista Dharmananda (LEIA AQUI), reúno aqui uma série de passagens do próprio Cânone seguidas de algumas curtas reflexões sobre o assunto. Conforme me lembre de alguma outra passagem ou encontre algo mais interessante o post será atualizado. Espero que abra as portas da curiosidade para que busquem mais informação ainda.



Existe algum tipo de pecado em se comer carne? Não. A carne em si própria é neutra, ela não é boa nem má. Nada tem significado intrínseco, nada tem essência real ou substância que atribua uma qualidade própria ao fenômeno "pedaço de carne". Então qual é a questão? Simples: o processo. Pelas causas e observando os resultados, É possível comer carne sem que o animal sofra as agruras da morte? Budismo é lógica. Não existe maldição, não existe castigo, não existe força sobrenatural que te recompense ou realize nenhum tipo de punição pelos seus atos que venha de fora da própria cadeia de causas e resultados. Então só resta a você observá-los e medir pelas consequências. Esse tema sobre certo e errado é discutido de uma forma bem simples num post anterior que você pode ler clicando AQUI.



De qualquer forma, leiam com atenção os dois links acima. A informação está aí pra quem quiser saber. E não acredite só pelo fato de estar escrito aqui. Questione, duvide, pergunte. Vá além. Abro as citações com um texto importante e muito interessante sempre seguido de meus curtos comentários em itálico.

"Por inúmeras razões, Mahamati, o Bodhisattva, cuja natureza é compaixão, não deve comer nenhuma carne; (...) assim sendo, como pode um Bodhisattva-Mahasattva, que tenciona aproximar-se de todos os seres como se fossem ele mesmo e praticar as verdades ensinadas pelo Buda, comer a carne de seres vivos que possuem a mesma natureza que ele mesmo? (...) o odor fétido emitido por um cadáver é ofensivo. Que o Bodhisattva abstenha-se de carne. Quando carne é queimada, seja de um homem morto ou de outra criatura, não há distinção entre o odor. Qualquer tipo de carne, quando queimada, emite um odor igualmente nocivo. Portanto, Mahamati, que o Bodhisattva, que deseja a pureza em sua prática, abstenha-se totalmente do consumo de carne. (...)
Se eu ensino que consideremos a comida com se estivéssemos comendo nossos próprios filhos ou tomando um remédio, como poderia eu permitir que meus discípulos, Mahamati, alimentassem-se de carne e sangue, que são gratificantes aos tolos mas abomináveis aos sábios, que trazem muito mal e afastam muitos méritos; (...)
Há muitos males em comer carne Mahamati, numerosos vícios são gerados nas mentes pervertidas daqueles que estão engajados no consumo de carne. Os ignorantes e de mente fraca não estão cientes de tudo isso, e dos deméritos ligados ao consumo de carne. Saiba, Mahamati, que conhecendo isto, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se de carne. (...)
O consumo de carne é condenado pelos Budas, Bodhisattvas e Sravakas; se alguém devora a carne sem sentir-se envergonhado, para sempre esta pessoa será insensata. (...)
Poderá haver uma época em que as pessoas passem a fazer tolas afirmações sobre o consumo de carne, dizendo: “A carne é própria para se comer e permitida pelo Buda, é para sua saúde”; novamente, lembre que é a carne de uma criança; siga as medidas corretas e seja avesso à carne. O consumo de carne é proibido por mim em todo lugar e em todos os tempos para aqueles que estão procurando desenvolver a compaixão (...)." (Sutra Lankavatara)

O Sutra Lankavatara é bem importante para algumas escolas japonesas, trata de ética Budista, alguns princípios lógicos e possui um capítulo inteiro sobre alimentação vegetariana. Leia o capítulo completo clicando AQUI. Parece algo pouco relevante?

"Se não queres acumular demérito, não comais nada se souberes que contém carne. Eu não terminaria nunca de falar se tivesse que detalhar profundamente as razões pelas quais não permito comer carne." (Mahaparinirvana Sutra)

Este sutra, junto com o Sutra do Lótus são considerados por Chih-i T’ien-t’ai como o teto, o auge do desenvolvimento do pensamento budista. Ou seja, provavelmente bem relevante, não acha? É notável a quantidade de pessoas que se dizem seguidoras do Sutra do Lótus, de Nichiren (que se afirmava discípulo de Saicho e de T’ien-t’ai) e dizem que isso não é importante.

"Um discípulo de Buda não deve matar, encorajar outros a matar, matar por meios hábeis, elogiar a matança, regozijar-se ao presenciar a matança, ou (tentar) matar através de encantamentos ou mantras. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou o karma de matar, e não deve, intencionalmente, matar qualquer ser vivo.
Como um discípulo de Buda, ele deve nutrir uma mente de compaixão e de piedade filial, sempre engendrando meios hábeis para resgatar e proteger todos os seres. No entanto, se ele falha em se impedir de matar e mata um ser senciente sem misericórdia, ele comete uma ofensa parajika (parajika era o pior tipo de ofensa na comunidade budista. Era seguida da expulsão do membro). (...)
Um discípulo de Buda não deve deliberadamente comer carne. Não deve comer a carne de qualquer ser senciente. O comedor de carne perde a semente da Grande Compaixão, corta a semente da Natureza de Buda e faz com que os seres [animais ou transcendentais] o evitem. Aqueles que assim procedem são culpados de incontáveis ofensas." (Sutra da Rede de Brahma)

O Sutra da Rede de Brahma contém as regras de conduta de vida para os Bodhisattvas, ou seja, para os seguidores do Budismo Mahayana. Acho curioso como se pode distorcer um texto tão claro e afirmar com qual cara de pau que comer carne não é matar o animal. Ora, pagar por isso ou aceitar é concordar e efetivamente participar do processo onde um animal se desesperou, chorou, tentou fugir e provavelmente foi marretado na cabeça, esfaqueado e sangrou até a morte.

"Sempre mantenha-se longe de peixe, carne (...) e também de outros restos impuros de alimentos." (Mahavairocana Sutra, Cap.36)

Um dos sutras mais importantes para as tradições esotéricas japonesas.

"E quando esses Yakshas de mente perversa ficam satisfeitos, tendo comido outros seres, então, com seus corpos cheios de carnes alheias, armam ali terríveis lutas." (Saddharmapuṇḍarīka sūtra [Sutra do Lótus] Cap.III)

Uma ilustração. Seres diabólicos que dentro de uma casa em chamas (o mundo fenomênico) se agitam a comer carne, nunca tendo paz. No Sutra do Lótus que tantos dizem seguir. E a ilustração prossegue:

"Numerosos Pisacakas corriam ali de um lado para o outro, infelizes, queimados pelo fogo e dilacerando-se uns aos outros com os dentes se salpicavam com seu sangue enquanto o fogo os queimava. (...) E ali as hienas morriam e os seres se devoravam uns aos outros; o excremento ardia com fétido odor e esse fedor se esparramava pelo mundo, pelas quatro regiões.”

Agora compara os comedores de carne a demônios e bestas ignorantes e selvagens. E aconselha:

 (...) O Bodhisattva (...) não frequenta (...) nem vendedores de porco, nem vendedores de aves, nem caçadores de cervos, nem açougueiros (...) evite a familiaridade com aqueles que por interesse matam seres sencientes de todo tipo e ao matadouro vendem sua carne. (Saddharmapuṇḍarīka sūtra [Sutra do Lótus] Cap.XIII)

Detalhe de uma cópia do Sutra do Ló-
tus onde cada caractere repousa sobre
um lótus, como Budas são ilustrados.
Que coisa! No Sutra do Lótus tá dizendo que não se deve nem dar bom dia pra açougueiro? Nossa, mas esse Buda eu não gosto! Ele é muito intolerante! Eu só gosto de paz, amor e harmonia! Assim é feio, chato e me incomoda.

Há uma expressão comum entre algumas escolas budistas que diz que cada sílaba do Sutra do Lótus é um Buda. Ora, será que aqueles que se dizem seguidores deste texto estão dando uma importância desse nível a cada palavra, cada sílaba contida nele? O sutra compara o ato de comer carne a selvageria, a instintos inferiores. Onde fica a “evoluída” humanidade? Ou compaixão é apenas para cães e gatinhos?

E ainda aos que se dizem seguidores do Sutra do Lótus, Nichiren, um monge budista japonês do século XIII que defendia esse sutra com todas as forças, diz em uma de suas cartas:

“Outras pessoas leem o Sutra do Lótus apenas com os lábios, simplesmente seguindo as palavras, mas não o leem com o coração. Mesmo que essas pessoas leiam o sutra com o coração, elas não o leem com as suas ações." (Nichiren. Tsuchiro Gosho/Carta na Masmorra, escrita para o sacerdote Nichiro)

Ou seja, a maioria lê com os lábios (da boca pra fora), outros com o coração (achando tudo lindo, exótico, diferente, “me dá uma paz”, mas não sai disso) e não leem com as ações (compreender corretamente e por em prática o que se leu). Pensem nisso! Quantos de vocês leram o Sutra do Lótus inteiro? Então por que razão diariamente repetem homenagens a um texto que não está sendo seguido?


E mais de Nichiren (ou Nitiren, como é grafado por algumas vertentes):


"Nada em todos os sistemas de mundos se compara ao valor de um ser vivo, isso significa que nem mesmo todas as joias e tesouros que preenchem o universo podem se igualar ao valor de uma vida. Aquele que mata uma mera formiga cairá no inferno, o que dizer então daquele que mata peixes e pássaros?" (Nichiren, Carta para Akimoto. 1280)

"O primeiro dos cinco preceitos é não tirar a vida e a primeira das seis paramitas é a generosidade. Seja os dez bons preceitos, nos duzentos e cinquenta preceitos, nos dez preceitos maiores e em todas as outras regras de conduta, todos começam com a proibição de tomar a vida.
Todos os seres vivos, do mais alto sábio ao menor mosquito ou pernilongo, sustentam a vida como bem mais precioso. Privá-los de viver é cometer o mais grave tipo de falta.
Quando o Buda surgiu nesse mundo, ele sustentou a compaixão pelos seres vivos como a base de tudo. E como expressão de sua compaixão pela vida, abster-se de tomar a vida e prover o sustento para os seres vivos é o mais importante dos preceitos." (Nichiren. A Dádiva do Sutra do Lótus, Carta para Kuwagayatsu Myōmitsu, 1276)

Parece irrelevante?

Bodhisattva Ksitigarbha
(jp. Jizo)
"Quando nasce uma nova criança na família, não é desejável que se mate nenhum animal como suplemento de forças para a mãe e nem se deve convidar amigos ou parentes para homenagear a criança oferecendo carne. Esse tipo de celebração do nascimento de uma criança nunca trará alegria nem à mãe e nem à criança. (...) Se alguém fizer maldades durante sua vida (...) seu karma o guiará aos cinco infernos (...) e sofrerá por milhões de kalpas. (...) Se seus parentes e filhos (...) oferecerem alimentos vegetarianos ao Buda e aos monges (...) seu sofrimento será aliviado." (Sutra dos Votos Originais do Bodhisattva Ksitigarbha)

Um sutra muito bonito e extremamente simbólico sobre o amor entre pais e filhos e as relações familiares. E mais do mesmo sutra:

"O Bodhisattva Ksitigarbha (...) para aqueles que violarem os preceitos e regulamentos da alimentação correta, fala de retribuições de renascer como pássaros ou animais sofrendo fome e sede (...)." (Sutra dos Votos Originais do Bodhisattva Ksitigarbha)

"Depois do meu nirvana, na era do fim do Dharma, tais fantasmas serão encontrados pelo mundo e se orgulharão de comer carne, dizendo que mesmo assim são capazes de atingir a sabedoria Bodhi (...) Como após o meu nirvana você poderia comer carne e ainda fingir que é meu discípulo?"

"Neste estado de absorção meditativa (...) o praticante pode erroneamente entender a vacuidade dos fenômenos (...) desenvolvendo uma mente vazia que guia à ideia da total aniquilação. Isso seria inofensivo se ele compreendesse que isso não é santidade, contudo, se ele considerar que seja, submeter-se-á ao demônio do vazio que controla sua mente e o faz criticar aqueles que observam as regras de pureza chamando-os de hinayanistas e afirmar que os bodhisattvas despertos à vacuidade estão livres de todas as proibições. Tal pessoa normalmente se permite comer carne e beber álcool na presença de seus fiéis e segue rumo a uma vida licenciosa. Devido à influência desse demônio, ele os controla e eles não desconfiam dele. Com o passar do tempo, eles considerarão excremento, urina, carne e bebidas alcóolicas como bons alimentos. Quebrarão as regras de moralidade e disciplina e cometerão toda sorte de faltas. O praticante perderá todos os méritos do estado atingido e cairá nos mundos inferiores." (Sutra Surangama)

Este sutra também importante contém uma parte sobre a relação entre o Budista e os animais que já foi publicada aqui no blog. Leia clicando AQUI.

"Como consequência da matança (...), a pessoa cairá no mundo infernal, no mundo dos fantasmas famintos e no mundo dos animais, sofrendo as dores próprias à matança (...). Por que deve ser assim? Porque mesmo os animais e outros seres comuns possuem as raízes do bem, por menores que elas possam ser. Eis por qual motivo uma pessoa que mata seres sencientes como esses deve receber a máxima punição por essa ofensa." (Mahaparinirvana Sutra)

Mais uma do importante Sutra do Grande Nirvana, o ultimo discurso do Buda. É interessante notar que não se encontra em nenhum lugar um trecho claro dizendo “coma carne que tá de boa.” Tem que torcer, envergar o texto até inventar uma interpretação que seja suficientemente conveniente com a frouxidão ética do interessado. Contudo, as passagens que dizem o contrário são muito, muito límpidas. Não preciso sequer fazer “interpretações.” Mesmo os textos usados para justificar o ato não fazem o menor sentido.

Um dos textos utilizados se encontra no Anguttara Nikaya. Conta que um general chamado Siha, generosamente ofereceu uma refeição ao Buda e seus discípulos. Os sacerdotes jainistas começaram a difamar a sangha espalhando que Siha havia mandado abater animais para esse banquete, o que era verdade. Essa informação chega aos ouvidos do próprio general Siha que responde ao mensageiro:

"Já basta bom homem. Durante muito tempo esses veneráveis tentam desacreditar o Buda, o Dhamma, e a Sangha. Eles nunca irão parar de deturpar o Abençoado com aquilo que é inverídico, sem base, falso, e contrário aos fatos, e nós nunca intencionalmente privaríamos da vida um ser vivo, mesmo que isso custasse a nossa própria vida." (Anguttara Nikaya, VIII. 12)

Em seguida o texto descreve Siha arrependido da confusão que causou, com as próprias mãos servindo o Buda e a sangha "com vários alimentos". Ora, o fato de que o Buda não comeria das preparações com carne era tão óbvio que quem escreveu esse sutra achou desnecessário deixar isso claro. E se usa esse texto (sim, esse, não é ridículo?) pra justificar que monges e leigos podem comer carne e que o próprio Buda comesse. Lamentável, já que o foco do texto é justamente o contrário, pois Siha percebeu que sua ação, quer matando, quer comprando a carne, gerava deméritos, tinha consequências. E a história do Buda ter morrido comendo porco eu nem vou comentar, pois não acredito que ainda exista alguém que não saiba que sukara-madava (deleite de porcos) era o nome de um cogumelo da região. Se não sabia, leia o primeiro link que foi sugerido neste texto.

Em países como o Sri Lanka, de tradição Theravada, há quem lute para que o governo considere crime hediondo o descaso e maus tratos a animais, inclusive no passado houve reis que aplicavam a lei de Maghada, que bania completamente a matança de qualquer animal em todo o reino. Pois eles são os hinayanistas, considerados pelo Budismo mahayana como um ensino inicial, inferior numa escala de desenvolvimento. E qual é a grande evolução do pensamento mahayana? Onde está a superioridade? É agora poder massacrar e assassinar? Que maravilha de compaixão! É muito amor pelos seres! É muita paz e harmonia! Dá pra perceber como isso é um papo furado danado?

"Os demônios se tornarão monges, estragarão e destruirão o meu caminho. Eles vão parecer seguidores e se regozijarão com vestes clericais e roupas multicoloridas. Eles vão beber vinho e comer carne, matar coisas vivas em seu desejo por bons sabores. Eles não terão mentes compassivas, e odiarão e invejarão uns aos outros." (Sutra da Total Extinção do Dharma)

Será que o texto acima diz algo sobre essa situação? Vamos prosseguir e ver alguns comentários de mestres e monges.

"O Buda é o navio que atravessa o oceano do sofrimento. Você deve cruzar até a outra margem tão logo puder. [Para isso, você deve em] primeiro lugar e mais importante de tudo, manter uma dieta vegetariana e seguir os cinco preceitos. Segundo, deve mudar seus maus hábitos em virtudes. Terceiro, precisará de mestres iluminados e bons amigos (...)" (Mestre Tsung-pen, Século XVI)

Percebe como hoje o discurso mudou?

"As pessoas que não entendem e pensam que podem entender sem estudo não são diferentes daquelas almas iludidas que não podem diferenciar branco do preto. Proclamando falsamente o Dharma do Buda, de fato essas pessoas blasfemam Buda e subvertem o Dharma. (...) Suas rezas são dos demônios e não dos Budas. Seu mestre é o Rei dos Infernos e seus discípulos são os favoritos do demônio." (Bodhidharma)

Bodhidharma é o patriarca mais importante da tradição Zen. Ele está mandando estudar para entender o significado correto dos textos e parar de espalhar besteira. Está dizendo que as práticas, sem a compreensão do que elas verdadeiramente significam são inúteis. Que os textos budistas são simbólicos e não relatos históricos. “Ah mas o meu mestre Juquinha disse que os sutras são inúteis, que a gente só tem que sentar aqui na almofada ou repetir essa frase mágica.” É? Em quem você acha que eu vou confiar?

"Haverá monges maléficos que (...) não se aprofundam nos sutras e nos sastras. Eles irão basear-se em visões distorcidas e serão incapazes de distinguir as doutrinas certas das erradas. Além disso, eles irão se dirigir aos seguidores e seguidoras, monges e monjas, e declarando 'Eu posso compreender as doutrinas, mas outras pessoas não podem' (...). Porém, deve-se compreender que essas pessoas destruirão o correto ensino do Buda." (Nichiren, O Diálogo entre o Sábio e o Ignorante/Shogu Mondo Sho)

O monge budista Nichiren (século XIII) está dizendo nessa carta exatamente a mesma coisa que lemos acima no texto atribuído a Bodhidharma. E como se faz para discernir o certo do errado? Estudo. Mas não estudo do livrinho de autoajuda do Lama Fulano ou da Mestra Não-sei-quem, muito menos da wikipedia ou nem mesmo deste blog. Estudo dos sutras e de seus comentários importantes. Esses textos existem e estão disponíveis, muitas vezes até com uma certa facilidade. Se alguém te disser que são impossíveis de entender, isso é mentira. Não acredite.


Falar de compaixão, de amor pelos “seres” é muito, muito fácil. Encher a boca pra usar termos como alegria, harmonia, paz mundial é lindo e enche o coração. Mas e “disciplina”? Alguém comenta? É muito fácil sentar na frente de um altar e repetir “Nam(u) Myoho Renge Kyo” (Homenagem ao Sutra do Lótus) uma centena, milhares de vezes, oferecendo frutas e arroz ao Buda. E a geladeira repleta de morte e sofrimento? Compaixão é ajoelhar-se diante de uma imagem pedindo a cura da doença de um parente e depois reunir-se ao redor de uma chama a gargalhar-se, despedaçando o cadáver de um animal que há poucos dias era plenamente saudável?


Confesso que esse tipo de lógica eu não entendo.