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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Escândalos Sexuais no Budismo Zen


Joshu Sasaki, New Mexico em 2007. Algumas ex-alunas dizem que foram levadas a acreditar que ser "agarrado" por ele era parte do treinamento zen

Desde sua chegada em Los Angeles do Japão em 1962, o mestre budista Joshu Sasaki de 105 anos (conhecido como professor de Leonard Cohen, o poeta e escritor), ensinou milhares de americanos em seus dois centros Zen na região e em um outro em New Mexico e ainda influenciou milhares de pessoas que buscavam a iluminação através de uma rede de cerca de 30 centros Zen desde Puget Sound até Princeton e Berlim. 

Sr. Sasaki tem também, de acordo com líderes de um conselho Budista independente realizado em janeiro, molestado sexualmente estudantes mulheres por décadas, tomando vantagem de sua posição de mestre e seu carisma.

As alegações contra Sr. Sasaki tem revoltado e chamado a atenção de Zen budistas dos EUA, que são parte de uma convivência cultural em que muitos participantes parecem conhecer, ou ao menos estar cientes de quem são seus principais líderes.

Sr. Sasaki não quis responder às perguntas feitas por Paul Karsten, um membro do Rinzai-ji, em seu principal centro em Los Angeles. Sr. Karsten alertou que um conselho de sacerdotes superiores do Sr. Sasaki está conduzindo seu próprio interrogatório, ouvindo relatos de vários estudantes de aparente significância, mas sem investigar nenhum caso a fundo.

Como Sr. Sasaki fundou e patrocinou tantos centros Zen e por ter prestígio de ter treinado no Japão, o peso de seu comportamento antiético poderá manchar todo o reconhecimento que ele obteve ao longo de sua vida.

Rinzai-ji -  Centro Sr. Sasaki, em Los Angeles

Tais evidências tem se tornado mais frequentes no Budismo Zen. Muitos outros instrutores tem sido acusados de má conduta recentemente, notavelmente Eido Shimano, que em 2010 foi "convidado a se retirar" da Zen Studies Society em Manhattan sob alegação de que teria mantido relações sexuais com estudantes. Críticos e vítimas têm apontado que a cultura Zen de segregação, patriarquismo e sexismo, além de uma quase-religiosa adoração ao mestre, são as principais causas dos abusos.

Estudantes ressentidos escreveram cartas para a administração de um dos centros do Sr. Sasaki já em 1991. Mas apenas em novembro deste ano, quando Eshu Martin, um sacerdote Zen que estudou com Mr. Sasaki de 1997 até 2008, postou uma carta no site sweepingzen.com, que o fato foi amplamente conhecido pelo mundo Zen.

Sr. Martin, atualmente um abade Zen em Victoria, British Columbia, acusou Sr. Sasaki de uma "carreira de má conduta", de "frequentes e repetidas pressões não-consensuais a estudantes do sexo feminino" a "coerção sexual em encontros para o 'chá' depois do fechamento do centro" e de interferir no casamento de seus estudantes. Após estas acusações de Martin, o conselho iniciou as entrevistas com estudantes atuais e antigos do Sr. Sasaki. Algumas mulheres dizem que ele as encorajava a crer que serem tocadas por Sasaki era parte do treinamento Zen.

O grupo Zen, ou sanga, pode se tornar a família mais próxima de alguém e é por essa razão que as testemunhas relutaram em falar sobre este assunto por tanto tempo.

Muitas mulheres que Sr. Sasaki tocou eram monjas residentes de seus centros. Uma mulher que não aceitou as investidas do Sr. Sasaki em 1980 foi desligada do grupo posteriormente. No relatório do conselho em 11 de janeiro, três membros denunciaram que Sasaki pediu às mulheres que mostrassem seus seios, como parte da 'resposta' para um koan" - uma espécie de charada Zen - para que demonstrassem 'desapego.'

Quando esse relatório foi postado no sweepingzen, os sacerdotes superiores do Sr. Sasaki responderam em um post que tal grupo "tem lutado contra a má conduta sexual de seu mestre Joshu Sasaki Roshi há algum tempo nos Estados Unidos" - esta foi a primeira vez que admitiram algo desse tipo.

Nikki Stubbs, que estudou em um centro zen com Joshu Sasaki 2003-2006, disse que seu mestre queria tocá-la de forma inadequada

Dentre aqueles que falaram ao conselho está Nikki Stubbs, que agora vive em Vancouver e estudou em Mount Baldy, um centro Zen de Sasaki a 50 milhas de Los Angeles, entre 2003 e 2006. Durante esse tempo, ela disse que Sr. Sasaki acariciou seus seios durante o sanzen (reunião privada); ele também pediu que ela massageasse seu pênis, o que causou à Nikki grande espanto.

Um monge para o qual a Sra. Stubbs contou sobre o acontecido tentou apaziguar dizendo que o Sr. Sasaki acreditava no estilo Roshi, que sexualizar era um meio hábil para algumas mulheres. A teoria do monge, comum no círculo do Sr. Sasaki, era a de que através de tal fisicalidade, a mulher pudesse subjugar o ego.

Uma antiga estudante do Sr. Sasaki, agora vivendo na região de San Francisco, disse que em Mount Baldy, no início da década de 1990, os monges confrontaram o Roshi e disseram que tal comportamento era inaceitável e que ele deveria parar. Contudo, a reclamação de nada adiantou. Depois de um tempo o Sr. Sasaki tentou também se justificar em  ensinamentos Zen para tocá-la, sob a afirmação de que 'o verdadeiro amor é entregar-se para tudo'. Em Mount Baldy, o isolamento pode comprometer o senso de realidade do aluno: "pode parecer mentira, mas quando você está nesse extremo estado de consciência," explica a ex-estudante, "vivendo em um mosteiro nas montanhas, sentada em silêncio por muitas horas do dia sua noção de limites é prejudicada."

Joe Marinello é um mestre Zen em Seattle que trabalhou na administração da Zen Studies Society em Nova York. Ele tem sido um crítico contundente do Sr. Shimano, o abade anterior que foi expulso da sociedade. Questionado sobre instrutores que dizem que o toque sexual é um método de ensino, ele repudiou. "Na minha opinião," disse por e-mail o Sr. Marinello, "é apenas uma distorção cultural e pessoal para justificar próprias predações."

Mas no Budismo Zen, estudantes muitas vezes ignoram as falhas de seus mestres, dizem os participantes. Alguns budistas definem sua filosofia em contraste com a religião ocidental: Budismo, eles creem, não tem as mesmas preocupações cristãs com valores como o sexo. Assim, o Zen exalta a relação entre mestre e discípulo como acima de qualquer coisa. "Fora a questão sexual que ocorreu," comenta uma mulher que atualmente vive em San Francisco, "minha relação com meu mestre foi uma das mais importantes que já tive."

Várias mulheres disseram que o ambiente Zen propicia o sexismo. Jessica Kramer, uma parteira em Los Angeles, foi assistente pessoal de Sasaki em 2002. Ela afirma que ele chegou a enfiar a mão em suas roupas, mas que ela sempre resistia às investidas. Jessica chegou a reclamar sobre a prática, contudo as pessoas, predominantemente homens sem muita simpatia, a aconselhavam a deixar que o líder tocasse seus seios.

Susanna Stewart começou a estudar com o Sr. Sasaki há 40 anos. Dentro de seis meses, ela disse que o Sr. Sasaki começou a tocá-la durante o sanzen. Tal sexualização, segundo a Sra. Stewart, "me levou a anos de confusão e sofrimento o que me causou ojeriza à religião Zen". Quando ela se casou com um sacerdote o Sr. Sasaki tentou separá-los incentivando até mesmo seu marido a ter relacionamentos extra conjugais. Em 1992, o marido da Sra. Stewrat se desfiliou do Centro Zen do Sr. Sasaki em North Carolina. Anos depois, sua esposa disse que ele recebeu mensagens de ódio dos membros de seu antigo grupo Zen.

O conselho de testemunhas que escreveu o relatório, não possui nenhuma autoridade oficial. Seus membros pertencem a American Zen Teachers Association, mas coletaram histórias por iniciativa própria, embora com um estatuto de apoio de 45 outros mestres e sacerdotes. Um desses autores, Grace Schireson, disse que os budistas Zen nos Estados Unidos tem interpretado mal a filosofia japonesa.

"Por sua longa história com a prática do Zen, pessoas no Japão possuem um certo ceticismo com relação a algum sacerdotes," comenta a Sra. Schireson. Mas nos Estados Unidos muitos fiéis desenvolvem uma "devoção com o guru ou mestre de uma maneira que suprimem o próprio senso crítico e inteligência emocional."

Na manhã de 07/02/2013, no Rinzai-ji, na rua Cimarron, em Los Angeles, Bob Mammoser, um monge residente, disse que o Sr. Sasaki está com a saúde muito frágil e que ele está basicamente afastado de qualquer ensino ativo. O Sr. Mammoser planeja realizar uma reunião para discutir que ação será tomada.

Sr. Mammoser conta que ele primeiro tomou conhecimento das acusações contra Sr. Sasaki nos anos 80. Mas que, apesar dos esforços dos acusadores da época, não houve evidências que comprovassem as acusações contra Sasaki e adicionou: "Não podemos nos esquecer que Roshi foi uma imponente e inspiradora figura, que através da prática budista auxiliou milhares de pessoas a encontrar mais paz, clareza e felicidade em suas vidas." E desta forma concluiu: "assim como há pros e contras quando você se casa com alguém, na relação mestre e discípulo ocorrem coisas desagradáveis e maravilhosas, de acordo com as qualidades e fraquezas das pessoas envolvidas."

Tradução: Prati Marcelo e Sandro Vasconcelos.

5 comentários:

  1. "Não podemos esquecer que Roshi foi uma imponente e inspiradora figura", "auxiliou milhares de pessoas a encontrar mais paz, clareza e felicidade em suas vidas" e mais blábláblá... Como se essas mulheres merecessem ouvir isso.

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    1. Realmente é bem ridículo tentar justificar de qualquer forma uma conduta tão desprezível.

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    2. Mas o que esperar de gente sem princípios que povoam esses templos "budistas" por ai, esse deve gostar de aborto e etc. O budismo está infestado de gente mau caráter como esse ai de cima.

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    3. Infelizmente você está certo, Nelson....

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  2. Só discordo quando afirmam que o mal-caratismo é inerente ao Zen. Inclusive não sei por que no Brasil e América Latina em geral a questão dos preceitos é tão relativizada, porque no Ch'an e no Zen orientais os preceitos são exigidos dos praticantes e mestres...

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