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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Os 10 Mundos

Post totalmente reformulado em 1.4.2014

Os sutras budistas falam de vários mundos onde se renasce dependendo das relações kármicas que alguém possui. Falam também de vários, numerosos kalpas (uma medida de tempo gigantesca, milhares de milhões de anos) que alguém deveria atravessar para ao fim desse processo tornar-se um Buda, um desperto completamente iluminado. Será que isso é assim tão preto-no-branco? Textos que falam de raios de luz saindo da testa, de criaturas mágicas numa assembleia voadora, multidões que emergem das entranhas da terra... seriam relatos literais? Será que houve um dia em que um filósofo mergulhou no fundo do mar e após uma discussão com um dragão, este ser permitiu a passagem do nosso filósofo que adentrou numa torre mágica, assim recebendo textos sagrados das mãos de um bodhisattva que residiu lá por centenas de anos?

Em nossos dias, a informação é por tantas vezes gratuita e temos acesso facilitado a saberes que há poucas décadas, seríamos obrigados a realizar longas viagens e ainda assim correr o risco de não obter sucesso algum. Hoje podemos encontrar na internet trabalhos sérios realizados em grandes universidades sobre praticamente qualquer assunto. Com o Budismo não é diferente. Estudos sobre as linhagens, datação de textos, aspectos históricos, traduções, uma larga quantidade de fatos antigamente tidos como verdades imutáveis postas em xeque pela investigação científica. Se não te oferecem respostas concretas, argumentos racionais e sólidos, procure por você mesmo. Imagino que deve haver leitores incomodados, cegos pela dúvida ou impedidos pelo medo. Faço um convite à reflexão. Toda a informação necessária para que se abandone a superstição, a infantilidade e a superficialidade está disponível na sua língua. Leia e chegue você mesmo na sua conclusão.
por Marcelo Prati (Renji)


Como já disse acima, existe espalhado pela literatura budista a ideia de mundos onde se renasce incessantemente. Essa cadeia de renascimentos é chamada de saṃsāra, que é traduzido às vezes simplesmente como "mundo" ou "roda da vida" ou "roda dos renascimentos". De uma forma mais completa, poderíamos dizer que o saṃsāra abrange a totalidade de mundos onde o indivíduo renasce sem parar. O objetivo da prática budista é justamente quebrar essa cadeia e não mais renascer nesses mundos do saṃsāra. Inicialmente se falava de seis mundos, três inferiores e três superiores, a saber:


Inferiores
1. O Inferno; os seres que lá nascem sofrem as mais terríveis agruras. Se debatem num enorme mar cheio de monstros, ou nos níveis mais profundos são torturados, eviscerados, perfurados, esmagados. Quem renascer lá permanecerá até que as causas de seus karmas de estar lá se esgotem.
2. O Reino dos Animais; ao renascer como animal, o indivíduo não possui consciência de si. Ele torna-se uma besta selvagem. Guiado apenas pelos instintos inferiores, pode cometer até mesmo atrocidades sem se dar conta disso. É ignorante do tempo que passa e o tempo de vida que tiver nesse mundo passará enquanto ele só se preocupa com sua sobrevivência, desprovido de humanidade.
Fantasma Faminto
3. O Mundo dos Fantasmas Famintos; esses espíritos, chamados em sânscrito de Pretas, são esqueléticos, possuem longos cabelos emaranhados e sujos. Renascido lá, transformados em pretas, se arrastam e lamentam, guincham, sofrendo com uma fome que nunca é saciada passando a existência se alimentando de cadáveres. Alguns possuem uma boca minúscula por onde nunca passa comida suficiente. Outros têm uma boca enorme e a garganta fina como uma agulha, da mesma forma, jamais preenchendo o vazio que sentem.

Superiores
4. O Mundo dos Asuras; grandes seres belicosos, lutadores, competidores, passam a duração de sua existência nesse mundo travando batalhas e duelos sem nunca se cansar de disputar, tentando ser como os deuses do Mundo Celestial.
5. O Mundo Humano; eis o único mundo de onde é possível libertar-se do ciclo do saṃsāra. O mundo humano é o único onde se pode despertar a bodhicitta, a aspiração pela sabedoria búdica. É o único mundo de onde é possível adentrar à corrente e disciplinar-se tentando atingir o último renascimento, no mundo dos Budas, de onde não se retorna mais à roda do saṃsāra.
6. O Mundo Celestial/Paraíso; renascendo como um deus, se habita em palácios onde só há alegrias e prazeres. Cercados desses mais altos e incessantes deleites o habitante do mundo dos deuses esquece que mesmo lá, como ainda se está sujeito às condições kármicas, só de poderá permanecer enquanto tais condições forem favoráveis para tal. Um dia, quando elas cessarem, ele abandonará esse mundo retornando à roda do saṃsāra.

Além desses seis mundos, a literatura acrescenta mais quatro.

7. O Mundo dos Śrāvakas; śrāvakas, na concepção Mahayana, são os discípulos do Buda. Renasce aqui seguindo um mestre.
8. O Mundo dos Pratyekabuddhas; praticantes sem mestre. Esforçados, porém solitários.
9. O Mundo dos Bodhisattvas; nascido aqui o praticante atinge a compreensão da compaixão budista. Ele, por vontade própria, se nega a atingir o nirvana e se extinguir por completo e permanece como um bodhisattva até que todos os seres sejam resgatados do saṃsāra. Ele só é capaz disso, porque sendo um bodhisattva, dotado da sabedoria búdica, pode entrar e sair de todos os mundos, auxiliar os seres que lá estão e não cair neles.

Por último,

10. O Mundo do Buda; os mundos presididos por Budas, os que ultrapassaram o nascimento e a morte adentrando ao Parinirvana.

Resumidamente, é isso. Dez mundos com suas características, dez reinos onde se renasce. Já publicamos uma seleção de passagens sobre o que o Budismo afirma sobre a alma e sobre a transmigração (clique para abrir) e quem leu aquela postagem, provavelmente na primeira olhada na descrição dos mundos já entendeu. Seriam mundos de verdade? Seriam lugares mágicos invisíveis, como no caso dos Asuras ou das centenas de Infernos descritos nos sutras, ou ainda voltar a este mundo como um cão ou uma fera comedora de carne? Quem acompanha o blog já viu esse tipo de expressão muitas vezes por aqui. E também já leu essa citação:
"Os sutras budistas contém inúmeras metáforas. Devido ao fato de que a maioria dos seres humanos têm mentes superficiais e não entendem coisa alguma profundamente, Buda usou o comum para representar o sublime. As pessoas que buscam benefícios concentrando-se em trabalhos externos, em vez de cultivarem-se internamente, estão buscando o impossível." (Bodhidharma. Século IV)
O processo de renascimento é interno. Não existe alma no Budismo. Não existe nenhum processo externo à construção da sua noção de si próprio que é causada pelas relações mente-corpo. Acreditar que algo permanece depois da sua dissolução é como achar que a sua memória, sua capacidade sensitória ou aquela dor de cabeça que você sentiu está em algum outro lugar que não na interpretação do seu próprio cérebro daquela dor ou das lembranças. Se houvesse algo fora desse processo, não existiria amnésia, não haveria perda de memória ligada com a velhice, etc. Algum tipo de memória ou marcas de lembrança externas à totalidade físico-química que nos forma é o mesmo que pensar que se poderia sentir fome sem os fatores que compreendem tal processo, como as enzimas corretas, o próprio estômago e a capacidade do cérebro de interpretar tais estímulos. O que então são essas ilustrações? O que significam todos esses símbolos? Veja bem, entenda que a palavra "karma" significa ação. É tudo aquilo que você faz (ou não faz) e que consequentemente acarreta numa consequência. Já falamos disso por aqui. Nada acontece isoladamente. Assim, suas ações geram condições kármicas (resultados das ações) que te fazem renascer, ou cair, num dos mundos. Vamos revisitá-los arriscando uma ótica mais aprofundada desdobrando as ilustrações:

O Mundo do Inferno num destaque de uma
ilustração da roda do saṃsāra.
1. Inferno. O grande mar do sofrimento. Você já esteve triste ao ponto de sentir-se morto, ou de quem sabe, desejar morrer? Era o mais profundo sofrimento. Talvez a sensação de se debater desesperadamente tentando achar um lugar para se segurar, mas não vê saída. Apenas se afunda cada vez mais nessa tristeza que parece nunca ter fim. Quem sabe num desespero ainda pior sentindo-se esmagado, o corpo despedaçado e sem forças. Sofre e nem sabe mais a razão.

O mais profundo sofrimento e nenhum vislumbre de mudança. É isso que significa renascer no inferno.

2. Animais. Às vezes eles parecem tranquilos. Mas eles sabem disso? Eles podem se enfurecer de repente, da mesma forma sem ao menos perceber. Um animal ferido pode morder a mão de alguém que vai apenas ajudar. Por quê? Eles são ignorantes que seguem seus instintos e não são capazes de controlá-los. Esforçam-se, em sua inocência, apenas por necessidades básicas ligadas ao instinto de sobrevivência. Quantas vezes agimos nós mesmos assim? Preferimos a ignorância à verdade, embotamos a capacidade de observar a realidade através do uso de drogas que turvam o discernimento e abraçamos a existência animal.

Ignorância, baixeza, vulgaridade, submissão aos impulsos. É isso que significa renascer como um animal.

3. Fantasmas Famintos. Pense na imagem do espírito raquítico, com o ventre estufado, que se arrasta e geme. Alguém cego pelo desejo de satisfação que por mais que alcance, não se satisfaz ou que ao perceber a impossibilidade de ter o que deseja, lamenta, se desespera ao pensar naquela fome impossível de eliminar. Alcoólatras, viciados em drogas, ou mesmo o desejo do produto daquela marca que você não precisa realmente, mas deseja com tanta fome que cria condições kármicas que te matam no mundo dos fantasmas e te fazem renascer direto no inferno. Quantas vezes isso pode acontecer e de quantas formas? E se pensarmos nisso como apego à satisfação sensorial? A vontade de ter algo ou alguma sensação que seja inalcançável ou que não se possa mais ter. Lembre-se que coisas e pessoas vêm e vão diariamente nas nossas vidas. Quantas vezes ao abandoná-las (ou abandonando) agimos como fantasmas achando que não seria possível viver sem uma sensação desejada? Quantas vezes fomos fantasmas ao buscar essa satisfação vazia que declina tão rapidamente e agimos como se não houvesse nada mais importante? Ao fim, caímos no inferno ou quem sabe, proporcionamos o mesmo aos outros. Não esqueça que nossas ações não atingem apenas a nós mesmos. Perseguimos cadáveres. Sensações mortas, desejos de uma recompensa momentânea e vazia de permanência que não nos oferece nada além de mais insatisfação.

Apego a um desejo ou sensação. Impressão de que não se pode viver sem algo. É isso que significa renascer como um fantasma faminto.

Pois agora vamos aos Mundos Superiores.

4. Asuras. Qual a razão de deidades bélicas, guerreiros, competidores ferozes estarem dentre os mundos superiores? A mesma energia, a mesma força é usada para que não se caia nos mundos inferiores, contudo é fato de que aqui não se está liberto do sofrimento. A derrota pode levá-lo a cair nos mundos mais baixos. Entendendo que é inegável a superioridade comparando com os outros locais onde se renasce, esse espírito pode ser considerado aquele de auto-superação, embora às vezes seja relacionado com o sentimento de ódio, o que acabaria por criar novas relações kármicas acabando com a existência nesse mundo e guiando a qualquer outro adequado à condição mental. Como já dito, essa energia de competição pode também ser usada positivamente de forma a criar condições kármicas de se renascer, por exemplo, no mundo humano.

Auto-superação, disputa, competição. É isso que significa renascer como um Asura.

5. Humanos. Como humano vem a capacidade de eliminar a ignorância. Pode-se perceber que a existência é insubstancial, que não existe ego imutável, que há a possibilidade de se eliminar as raízes do sofrimento. É a chave para o equilíbrio e a possibilidade de realizar o "último renascimento" e nunca mais cair em nenhum dos outros mundos. A chance de adentrar ao Caminho do Meio e atingir o mesmo conhecimento dos perfeitamente iluminados.

Encontrar e permanecer no equilíbrio tornando-se senhor de si mesmo. É isso que significa renascer como ser humano e o primeiro objetivo do Arya Marga é atingir o mundo humano e não retornar mais aos mundos inferiores.

6. Paraíso. Ora, numa vida plena de satisfação e prazeres, quem se preocupará com a própria existência? Pessoas habitando o paraíso da juventude, a todo momento sendo possível atender aos chamados dos sentidos e à satisfação física, nunca parando pra pensar que, por mais que aquela vida prazerosa parecesse interminável, inevitavelmente viria a findar. Ao encarar o declínio da aparência, caem no mundo dos fantasmas famintos, desesperadas pela recuperação de algo que nunca voltará. Cirurgias plásticas, tratamentos "rejuvenescedores" ... renascendo assim no mundo dos fantasmas. Quem vai pensar em sabedoria búdica num iate segurando sua taça de Dom Perignon que nunca fica vazia? Em meio ao luxo, cercado da satisfação imediata? Sem refletir sobre a impermanência da sensação de felicidade, oscilam assim entre um paraíso ilusório e uma vida baixa como a de uma besta selvagem. Contudo, mesmo a alegria de se encontrar uma grande verdade também pode guiar ao renascimento do Paraíso Celestial. Se ela não for corretamente compreendida, pode-se apegar ao deleite da compreensão ou da experiência e ao fim esquecer que ela também é insubstancial e que declinará inevitavelmente.

Usufruir de grandes alegrias. É isso que significa renascer no Paraíso.

Mas então, o que significa tornar-se humano? Quer dizer que põe-se um fim em tudo que você sente? Que nos tornamos indiferentes a uma bela música, não daremos mais risada com os amigos, que não ficaremos tristes diante da morte, das separações da vida ou que você nunca ficará - ou não deveria ficar - enfurecido diante de uma injustiça? Longe disso! Significa que renascendo como humano, quando você passar por um momento difícil, você vai se entristecer. Mas como a tristeza de um humano e não de um habitante dos infernos. Significa que você terá uma felicidade, mas consciente de sua curta duração e declínio. Feliz como um humano e não como um deus despreocupado, achando que nada pode te atingir. A impermanência te pega desprevenido e te faz renascer direto no inferno. É a sua chance de entender que os fenômenos são desprovidos de realidade intrínseca, sendo assim, não há nada que permaneça após a dissolução dos agregados que os compõem. Por outro lado, o caminho do niilismo hedonista, além de auto-destrutivo é anti-ético, já que nossas ações não acontecem isoladamente, estão todas ligadas. Tudo que você faz ou deixa de fazer exerce algum tipo de influência em você mesmo e nos outros, fazendo com que você ou alguém renasça e permaneça em algum dos mundos enquanto houver condições para tal.

Obviamente isso é uma forma de interpretação, como pode haver inúmeras outras. Contudo, quando temos vontade de entender um assunto, analisamos a literatura pertinente, não é mesmo? Se eu quisesse aprender sobre a história do Brasil, não procuraria num livro sobre álgebra. Sabemos de várias religiões budistas que citam um grande trabalho de Chih-i para explicar essa doutrina dos mundos. Ora, que tal se lêssemos as palavras do próprio tratado A Grande Cessação e Observação (jp. Makashikan)? Veja:

"Os fenômenos concebíveis são como segue. O Pequeno Veículo também ensina que todos os fenômenos têm seu surgimento na mente, ou seja, o ensino do ciclo de causas e efeitos nos seis destinos, dos infernos ao mundo dos deuses e o renascimento no mundo tríplice do desejo, forma e não-forma. De acordo com esse ensino, se você deseja abandonar um mundo ordinário de seres iludidos e buscar um mundo nobre, dos sábios, deve abandonar o que é baixo e buscar o que é superior, que é, sabedoria da extinção da consciência e a redução do corpo em cinzas.
O Grande Veículo também esclarece o ensino de que todos os fenômenos possuem seu surgimento na mente, o que significa em termos de ensino, os dez mundos desde o inferno ao estado de Buda. De acordo com este ensino, ao contemplar seus pensamentos, você contempla os objetos como existentes, compreende que neles há boas e más existências. Há três tipos de más existências - causa dos três destinos do inferno, fantasmas famintos e animais; e há três tipos de boas existências - causa e resultado de asuras, seres humanos e deuses. Se você contemplar tais seis tipos de existências como transitórias, como algo que surge e se dissolve, então você vai compreender que a mente que os contempla também não permanece ou habita de forma fixa na mudança de um pensamento para outro.
Ambos aquele que contempla e aquilo que é contemplado surgem através de condições. Por surgirem através de condições eles são vazios de realidade intrínseca. Ambos são as causas e resultados de fenômenos como entendido por aqueles dos dois veículos [do sravaka e pratyekabuddha].
Se através da contemplação do vazio da existência você cair nos dois extremos [do eternalismo ou do niilismo] - mergulhando no vazio ou estagnação do Ser em conceitos ilusórios - você deve fazer surgir a grande compaixão e "entrar novamente" na existência convencional para salvar e transformar os outros seres. Embora nesses mundos você não tenha exatamente um corpo, você convencionalmente cria um corpo; mesmo que na realidade não haja vazio substancial, você convencionalmente ensina o vazio e então guia e transforma os outros seres. Essa é a compreensão das causas e resultados dos fenômenos pelo bodhisattva.
Contemplando os fenômenos dessa forma - tanto para aquele que salva quanto para aquele que é salvo - você entende que todos os fenômenos são aspectos verdadeiros do Caminho do Meio e são completamente puros. O que é bom e o que é mal? O que existe e o que não existe? Quem está salvo e quem não está salvo? Tais distinções não pertencem à realidade última. Todos os fenômenos são assim - essa é a compreensão das causas e resultados dos fenômenos por um Buda.
Os dez mundos desde o inferno ao estado de Buda estão interconectados e revolvem-se do mais superficial ao mais profundo; em todo caso, todos eles surgem na mente. Tal compreensão é a interpretação Mahayana das Quatro Nobres Verdades como 'imensuráveis.'" (T'ien-t'ai Chih-i. A Grande Cessação e Observação. T46.52b18. Século VI)

Leia de novo: "...todos os fenômenos têm seu surgimento na mente, ou seja, o ensino do ciclo de causas e efeitos nos seis destinos, dos infernos ao mundo dos deuses e o renascimento no mundo tríplice do desejo, forma e não-forma."

E com a mesma atenção: "...todos os fenômenos possuem seu surgimento na mente, o que significa em termos de ensino, os dez mundos desde o inferno ao estado de Buda."

E no próximo parágrafo dessa mesma seção consta: "A contemplação dos objetos como inconcebíveis é como segue. Como consta no Avatamsaka Sutra: 'A mente é como um artista que cria os cinco skandhas como o pintor cria imagens de várias cores; Mas em todos os mundos não há nada que não tenha sido criado pela mente.'" (idem)

Além disso, só para não deixar fora da postagem, mas sem muita enrolação (fica pra outro dia): ichinen-sanzen, algo como "Possessão Mútua dos Três Mil Mundos em um Único Instante", significa basicamente que esses dez mundos se interpenetram, ou seja, como um contém o outro mutuamente, tornam-se cem mundos. Por sua vez, multiplicados pelas dez similitudes (efeito manifesto, efeito latente, condição, causa, função, poder, substância, natureza, aparência e a não diferenciação entre os nove aspectos anteriores) são mil mundos, que por sua vez multiplicados pelas três categorias de individuação (os agregados da existência, o ambiente social e o ambiente natural) finalmente fazem três mil mundos. Todos esses mundos habitam nossa mente.

Não vou esticar ainda mais o texto com citações já feitas em outras postagens. Os outros "Mundos" como dos discípulos do Pequeno Veículo, dos praticantes solitários e o dos bodhisattvas também constam nesse curto trecho acima. O Bodhisattva é superior, pois ele consegue "criar um corpo" e embora não "habite" os Mundos inferiores, ele pode entrar e sair deles, ou seja, aproximar-se do sofrimento alheio sem se afetar e tem habilidades para ensinar, ele se esforça para conhecer bem os mundos porque deseja tirar as pessoas de lá. As Terras Búdicas já foram assunto de outra postagem. Como eu escrevi no início, a informação está disponível. Esses textos existem e você pode lê-los. Não saber é uma escolha consciente. Permanecer na ignorância é uma decisão.

Quer fazer um teste muito interessante? Leia bem a descrição dos seis mundos e tente observar em quantos deles você renasce num único dia.

Reflitam com atenção. Avaliem, duvidem e busquem saber mais. Até o próximo texto.

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